08/08/2018

Abordagem da polineuropatia diabética dolorosa.

Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o médico Luiz Clemente Rolim realizou, durante a I Jornada de Síndrome Metabólica e Dor da Associação Paulista de Medicina, em 4 de agosto, a palestra “Abordagem da Polineuropatia Diabética Dolorosa”.

Leia resumo da palestra:

A Polineuropatia Diabética (PND) é a complicação mais subdiagnosticada e subtratada do Diabetes Melittus (DM), pois é uma doença polimórfica e a maioria dos casos permanece assintomática por muitos anos. Ao mesmo tempo, é uma das complicações crônicas mais impactante na qualidade de vida dos indivíduos diabéticos, pois em cerca de 50% dos casos manifesta-se com dor neuropática crônica (DNC) ou Polineuropatia Diabética Dolorosa Crônica (PNDDC).

Embora atualmente existam inúmeras drogas para a PNDDC, a maioria delas têm efeitos adversos que limitam sua utilidade e o tratamento farmacológico da dor neuropática continua a ser um desafio para os médicos, sendo que a eficácia e a tolerabilidade individual permanecem um fator importante em qualquer decisão terapêutica. Devido ao grande fardo causado pela PNDDC, há necessidade premente e não atendida tanto para o tratamento sintomático quanto das suas comorbidades.

Uma definição já internacionalmente consagrada da PND é a seguinte: “uma degeneração simétrica, distal e progressiva das fibras sensitivo-motoras e autonômicas periféricas, atribuível a alterações metabólicas e microvasculares causadas pela hiperglicemia crônica (DM) e pelos fatores de risco cardiovascular”.

Atualmente, estima-se que há 415 milhões de adultos com DM no mundo. Destes, 16% a 26% têm polineuropatia diabética dolorosa crônica (PNDDC), isto é, apresentam PND com dor neuropática por mais de 3 meses. Esta é tipicamente distal (predomina inicialmente nos dedos dos pés e posteriormente nos pés, tornozelos, pernas e mãos), simétrica e com piora noturna importante. Em relação à característica da dor ou fenótipo doloroso (sinais e sintomas), o paciente geralmente descreve a sensação como “formigamento (parestesia) que interrompe o sono” ou como “queimor contínuo” (queimação), ou uma “dor profunda e lancinante, em choque, pontadas ou facadas” (dor paroxística).

Atualmente, a maioria dos consensos, diretrizes e orientações para o tratamento sintomático da PNDDC recomenda uma abordagem escalonada (drogas de primeira, segunda e terceira linhas) e ainda bastante empírica. Como a PNDDC apresenta alto índice de comorbidades associada, vários autores recomendam que a droga de escolha seja pautada pelas comorbidades, por exemplo, pacientes com depressão deveriam receber inicialmente um antidepressivo (AD) enquanto que os com ansiedade, receberiam preferencialmente um anticonvulsivante (AC).

Em conclusão, a Polineuropatia Diabética Dolorosa Crônica é uma doença prevalente, polimórfica, multifatorial, complexa e altamente impactante. Em relação ao seu tratamento sintomático, os resultados têm sido bastante modestos até o momento, mesmo com tudo o que se dispõe para o arsenal terapêutico. Portanto, uma abordagem holística e personalizada (“cada doente e único”), isto é, multifatorial e baseada tanto no fenótipo da dor quanto nas comorbidades para a escolha da droga de primeira linha é desejável, racional e parece-nos bastante promissora, pois as evidências científicas estão apenas começando.

Sobre o autor

Luiz Clemente Rolim
Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo;
Mestre em Endocrinologia pela UNIFESP-EPM;
Médico Pesquisador da Cochrane Collaboration;
Coordenador Responsável pelo Setor de Neuropatias e Pé Diabético do Centro de Diabetes da UNIFESP-EPM; e
Representante Do Brasil junto à IWGDF (International Working Group On The Diabetic Foot) – IDF – 2015 (Grupo De Trabalho Internacional Em Pé Diabético)
Contato: rolim777@gmail.com