31/10/2019

Médicos também sofrem com Síndrome de Burnout Professora da Faculdade de Medicina da USP debateu a questão com docentes da FCM/Santa Casa de SP

Fotos disponíveis para download no Flickr da FCM/Santa Casa de SP

A Síndrome de Burnout, distúrbio emocional caracterizado por estresse crônico devido a condições de trabalho desgastantes, costuma atingir, entre outros profissionais, os da área da saúde. Para alertar os médicos da Santa Casa de São Paulo e conversar sobre o tema, os Departamentos de Cirurgia e de Obstetrícia e Ginecologia da Irmandade convidaram a Profa. Dra. Carmita Abdo, docente da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP) e psiquiatra coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Em reunião conjunta dos dois Departamentos nesta quinta-feira, 31, a psiquiatra apresentou como a síndrome afeta os médicos e destacou a falta de cuidado que a categoria tem com a própria saúde, desde a graduação. Jornadas extenuantes, falta de estrutura adequada para conforto e descanso nos hospitais, cobranças internas e externas por maior remuneração e condições precárias para o exercício da profissão no serviço público estão entre os fatores que levam à tensão. O resultado é o surgimento de sintomas como irritabilidade, lapsos de memória, ansiedade, distúrbios gastrointestinais, pressão arterial alterada, dores musculares e depressão.

“O médico faz o próprio diagnóstico e sabe quando está com Burnout ou outra doença, mas não muda o estilo de vida. Sempre protela os autocuidados, assim como as medidas de prevenção. Deixa para tomar uma atitude nas férias, quando chegam as férias adia para o retorno ao trabalho e assim por diante”, exemplificou Carmita Abdo, lembrando o caso de um urologista que faleceu por câncer de próstata por não fazer os exames regulares.

A médica falou sobre as formas de enfrentamento do problema, com intervenções combinadas que incluem ações focadas no indivíduo e no ambiente de trabalho. Individualmente, é importante desenvolver tanto habilidades comportamentais, como a prática de meditação e atividade física, quanto cognitivas, como o desenvolvimento de estratégias de coping, ou seja, gestão das emoções e busca de soluções diante de situações estressantes.  Já as corporações devem investir no treinamento dos profissionais sobre o assunto e na melhoria das condições físico-ambientais. Outro foco é a relação do médico com a organização, que envolve melhoria da comunicação e do trabalho em equipe.

A professora discorreu também a respeito da prevenção da Síndrome de Burnout. Carmita Abdo defendeu a adoção de determinados comportamentos pelo médico, como não permanecer 24 horas por dia conectado ao trabalho. “Além disso, é preciso usufruir de intervalos durante o expediente: pausas para outras atividades, como dar uma volta, fazer compras, tomar um café”, aconselhou. Abdo advertiu os presentes a evitarem o uso crônico de medicamentos para dormir, que podem alterar processos cerebrais. E sugeriu a busca de apoio em uma rede social de suporte, composta por família e amigos.

Após a palestra, houve um bate-papo com os profissionais que participaram da reunião sobre os desafios vividos no dia a dia. A abertura e o encerramento da reunião foram realizados pelo Prof. Dr. Luis Gustavo Morato de Toledo, chefe do Serviço de Urologia da Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo e docente da Disciplina de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Vanessa Krunfli Haddad