1/6/2019

II Simpósio Santa Casa de Autismo Evento tem temas pouco discutidos e falas de autistas e familiares

O II Simpósio Santa Casa de Autismo ocorreu dias 31 de maio e 1º de junho de 2019 na FCMSCSP. O evento, voltado para profissionais de saúde, estudantes, educadores e familiares, busca oferecer informações diferenciadas sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), com atividades coordenadas por docentes da FCMSCSP, com ampla experiência e conhecimento na área.

Veja fotos aqui.

O Transtorno do Espectro do Autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento que atinge entre 1 e 2% da população e é essencial que profissionais da saúde e da educação, assim como toda a comunidade, estejam capacitados para a assistência das pessoas com autismo e para a construção de uma sociedade realmente inclusiva.

Na Abertura do evento, a Profa. Dra. Noemi Takiuchi (FCMSCSP) destacou a preocupação da organização de trazer novos temas ao debate e de dar voz a pessoas com autismo e a seus familiares. “Essa foi uma preocupação essencial que tivemos na elaboração da programação”, afirmou.

“Inclusão educacional” foi o tema de Rodrigo Mendes, do Instituto Rodrigo Mendes / Diversa, (à dir. na foto). “É preciso entender inclusão como um universo que acolhe a todos e busca atender as necessidades de cada um. No mundo, há 1 bilhão de pessoas com as mais variadas  deficiências, o que corresponde a 15% da população mundial. No Brasil são cerca de 30 milhões de indivíduos, sendo que apenas 3% passam pelo ensino fundamental e somente 0,5% pelo superior” relatou. “A inclusão educacional tira da inércia, porque demanda professores com mais tempo ara planejar as aulas, com formação continuada, e famílias participativas.”

“Nada sobre nós, sem nós’: a importância do protagonismo da pessoa com autismo” foi o assunto da Profa. Rita Louzeiro (Abraça – Associação Brasileira para Ação por Direitos da Pessoa com Autismo). “Sou autista e sei como o preconceito ainda se faz muito presente. É preciso ainda alertar a sociedade sobre diversos temas envolvendo os autistas, como direitos reprodutivos, abuso e violência sexual; e tratamentos cruéis ou degradantes”, disse.

“Transtorno de linguagem como especificador no autismo” foi enfocado pela Profa. Dra. Noemi Takiuchi (FCMSCSP).  Ela tratou de mudanças no sistema classificatório do TDA. “Hoje há dois fatores: dificuldades de interação e comunicação social; e comportamentos repetitivos e interesses restrito, que são classificados em diversos níveis”, comentou. “É preciso levar em conta interações  entre questões biológicas e cognitivas, assim como as relações entre deficiências e comorbidades sem cair no risco de modismos ou charlatanismos.”

“Avaliação neuropsicológica no autismo: contribuições para o diagnóstico e a intervenção” foi desenvolvido pela Profa. Dra. Tatiana Mecca (FCMSCSP / UPM). Explicou que neuropsicologia não é só aplicar testes e comparar os resultados com grupos de referência. Há grande heterogeneidade nos casos, em fatores como comportamento, inteligência, linguagem e desempenho acadêmico. Por isso, a anamnese, a observação do comportamento, avaliações e tetses que, inclusive, comparecem a criança com ela mesma, são fundamentais.”

“Acessibilidade na comunicação” foi o tema de Claudia Werneck (ONG Escola de Gente). “Há diferenças entre a comunicação inclusiva, que busca atender a necessidade de todos comunicarem e serem comunicados, e a acessível, que utiliza recursos como audiodescrição, Libras e legendas. Precisamos nos mobilizar em ambas as direções, superando o modelo da atual sociedade”, afirmou.

Dia 1/6, houve a mesa-redonda “O que esperamos das intervenções: a perspectiva da pessoa com autismo, dos familiares e dos profissionais”. Mariana Bernicchi (professora e pessoa com TEA) disse que ser autista não ode ser considerado um problema. É preciso lembrar que nós, autistas, somos muito muito diferentes, pois cada um tem suas características e reação, por exemplo, a uma multiplicidade de estímulos”, disse. Roberta Ruberti (dentista e mãe de um menino autista de 11 anos) enfocou como o nascimento de uma criança autista impacta a família. “Os grupos de apoio e o diagnostico precoce são muito importantes”, comentou. A Dra. Gabriela Stump (psiquiatra IPq USP) também enfatizou a diversidade de perfis e  e a necessidade de formas de financiamento viáveis do tratamento. “As formas e tempo de aprender são bem diferentes em cada autista e, mesmo dentro de políticas gerais, é preciso ter consciência das da realidade e das necessidades de cada um”.

“Autismo não é um transtorno só da infância: dando visibilidade aos adultos e idosos com autismo” foi o assunto do Prof. Dr. José Belisário Filho (UFMG). Argumentou que os serviços e as políticas públicas estão despreparadas para tratar cada paciente, pessoa e família com as suas especificidades. “A escola, por exemplo, identifica aquilo em que cada aluno é ruim, em vez de apontar as potencialidades. Por outro lado, hoje, autistas vêm sendo absorvidos no mercado de trabalho de empresas de tecnologia pelas suas habilidades de realizar ações repetitivas e de realizar  tarefas que demandem atenção a detalhes”, avaliou.

“Autismo em meninas: por que é diferente e o que deve ser observado?”, da Profa. Dra. Rosane Lowenthal, da FCMSCSP, (esq. na foto), foi a última palestra do evento. “Existe um grande número de mulheres não diagnosticadas ou diagnosticadas tardiamente. A relação epidemiológica deve ser de 1 mulher para 3 homens com autismo, e não 4 como se considerava até recentemente. As mulheres autistas tendem a a ter interesses restritos em atrizes ou bichos e muitas vezes sofrem também de anorexia. Há ainda uma tendência a imitar modelos de sucesso social e maior número de casos de depressão e ansiedade, muitas vez demonstrado pelo choro. No que diz respeito ao tratamento medicamentoso, é necessário tomar cuidado para não indicar remédios que tragam consequências hormonais, por exemplo”, apontou.

A realização é do Curso de Fonoaudiologia da FCMSCSP e do Departamento de Psiquiatria da FCMSCSP, com coordenação das Professoras Doutoras Noemi Takiuchi e Rosane Lowenthal, e apoio das Ligas de Autismo e de Comunicação Humana.