A procura por remédios naturais no sistema público de saúde do Brasil está em alta. No décimo aniversário da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, em 2016, o Ministério da Saúde estimou que a quantidade de pessoas que buscaram os tratamentos à base de plantas havia crescido mais de 160% em dois anos.
A política abriu as portas da oficialidade para os medicamentos fitoterápicos —aqueles produzidos diretamente a partir de plantas — e também para o costume de usar a flora no tratamento de problemas de saúde. Muito ligado à tradição popular brasileira, o costume foi codificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e incorporado ao receituário do Sistema Único de Saúde (SUS), com boa receptividade.
A preocupação científica se concentra sobre as plantas medicinais in natura e os produtos diretamente extraídos delas. Em situação diferente se encontram os medicamentos fitoterápicos desenvolvidos em laboratório. São remédios que têm como ponto de partida as plantas, mas que passam por todas as etapas requeridas para os medicamentos alopáticos comuns.
Os fitoterápicos são, portanto, remédios formalizados, conforme explica a professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Maria Thereza Gamberini.
— Considera-se medicamento desde que exista validação de eficácia, segurança e reprodutibilidade de efeitos. Se o medicamento já está na farmácia, essas informações já estão estabelecidas.
O processo para consolidar um remédio é longo. Começa com testes pré-clínicos, que envolvem experimentação em animais de crescente complexidade genética. Dependendo dos resultados farmacológicos e toxicológicos, passa-se, então, aos testes clínicos, em que se verifica a aplicação em humanos. Apenas depois disso é que se pode pensar em comercializar.
No Brasil, a conclusão desses passos pode levar de 10 a 15 anos, segundo Maria Thereza. De acordo com ela, a valorização da comprovação científica sinaliza um grande potencial para os fitoterápicos. De fato, a pesquisa na área é forte no país. Entretanto, o volume de produção ainda decepciona.
— Ficamos aquém do que poderíamos. As indústrias farmacêuticas não têm uma filosofia de desenvolvimento de novos medicamentos. Elas priorizam a comercialização de princípios ativos que vêm do exterior, só colocados em forma farmacêutica para venda — lamenta.
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