Estudos sobre a reprodução humana são objetos de análise para muitos pesquisadores, principalmente aqueles que cursam uma pós-graduação em infertilidade, por exemplo. Porém, com o cenário pandêmico da Covid-19 tomando proporções cada vez maiores, várias questões sobre o impacto da doença apareceram em diversos lugares em relação à transmissão sexual do SARS-CoV-2 e aos reflexos da doença na fertilidade humana, tanto masculina como feminina, e até mesmo na gestação. Com isso, unido ao avanço das campanhas de vacinação no país e no mundo, novas perguntas sobre o assunto surgiram, essencialmente sobre Covid-19 e infertilidade, fazendo com que os índices de vacinação caíssem.
A fisiopatologia da infecção pelo betacoronavírus 2B SARS-CoV-2 rodeia a função essencial dos receptores da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) e da serina protease transmembrana tipo 2 (TMPRSS2) existentes na superfície das células hospedeiras.Tais receptores fazem a conexão com a espícula glicoproteica de SARS-CoV-2, em sua porção S1, para oferecer a conexão e adesão à membrana célula, e sua porção S2, para a fusão viral com a membrana e liberação do genoma viral no citoplasma e, assim, a progressão da infecção. Os receptores ACE2 podem ser encontrados no tecido pulmonar, mas também há a presença de receptores para SARS-CoV-2 em órgãos/tecidos do sistema reprodutor humano em algumas regiões.
No sexo masculino, apontou-se a expressão de receptores ACE2 e TMPRSS2 nos testículos expressos em células de Leydig, células-tronco das espermatogônias, entre outros. Pacientes também já mostraram incômodos no saco escrotal e achado incidental de epididimite, orquite ou orquiepididimite em exames de ultrassonografia em taxas de até 22,5%.
Os aspectos já fizeram com que fosse sugerida espermatogênese anormal em homens com Covid-19 moderada a grave, com perda na qualidade do espermatozoide. Também foi notada alteração hormonal da ratio testosterona/LH e do FSH/LH. Com taxas em torno de 15,8%, raros foram os estudos que conseguiram detectar SARS-CoV-2 em amostras de sêmen – e a transmissão sexual não foi possível de ser comprovada.
Além disso, também notam-se os receptores ACE2 e TMPRSS2 em menor quantidade no sistema reprodutor feminino, dependendo de gonadotropina. Os receptores ocorrem de forma mais restrita em células germinativas e em tecidos específicos, mais especificamente ACE2 (100% das células) em maior quantidade do que TMPRSS2 (37% das células). Sendo uma alternativa aos receptores ACE2 e TMPRSS2, o receptor Basigin (BSG) é evidente em células somáticas ovarianas. O grau de coexpressão desses receptores se altera em função da maturidade dos oócitos.
Apesar disso, não há evidências que apontem a presença de SARS-CoV-2 nos ovários humanos ou a diferença na qualidade do fluido folicular entre mulheres sem doença, recuperando-se da doença ou após vacinação com a estratégia Pfizer. Anticorpos IgG anti-Covid foram detectados nessas amostras pós-infecção ou vacinação. Além disso, não há comprovação ou evidências de que seja alterada a fertilidade feminina, e a chance de detecção e multiplicação do vírus da Covid-19 em líquido amniótico, cordão umbilical, fluido vaginal e leite materno tem sido apontada como mínima.
Informações segundo Chandi e Jain (2021) e portal PEBMED.
Segundo Lacobucci (2021), no jornal científico BMJ, de acordo com a declaração da Association of Reproductive and Clinical Scientists and the British Fertility Society, não há nada que mostra que a vacinação anti-Covid-19 poderia ter risco para a fertilidade masculina ou feminina. Ou seja, levando em conta as estratégias das vacinas contra a doença, nada sustenta a suspeita de que a vacinação cause infertilidade, já que nenhuma delas possui o vírus SARS-CoV-2 completo em sua constituição de maneira viável ou reprodutível, mas, sim, partículas inativadas ou fragmentos de sua estrutura.
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