Escolha de Sofia e Covid-19: entenda qual é a ligação

Antes de entendermos o que o termo “escolha de Sofia” tem a ver com a Covid-19, é necessário conhecer de onde ele surgiu. A expressão, oriunda do inglês, Sophie’s choice, nasceu a partir de um filme de drama estadunidense de 1982, com direção e roteiro de Alan J. Pakula, baseado no romance de William Styron, de 1979.

A produção baseia-se no drama que Sofia, uma mãe polaca e filha de um pai antissemita, enfrenta. A personagem está em Auschwitzs, um dos maiores campos de concentração da Alemanha nazista, durante a Segunda Guera Mundial, sendo impelida por um soldado a tomar uma escolha difícil: eleger qual dos seus dois filhos iria sobreviver. Caso ela não escolhesse, ambos iriam morrer na câmara de gás. 

A situação é relembrada por Sofia em 1947, momento em que ela, casada com um judeu em Nova York, vive um triângulo amoroso com um aspirante a escritor. Com isso, o termo “a escolha de Sofia” remete à sensação de ter que tomar uma escolha muito complicada em um ambiente de pressão e sacrifício. 

Escolha de Sofia e Covid-19

Transportando para a realidade médica, vivida em uma faculdade de Medicina, por exemplo, e a crise sanitária em que vivemos atualmente com a pandemia da Covid-19, desde que surgiu, o vírus vem causando um enorme volume de pacientes em estado grave, o que exige tratamentos intensivos e gera Centros de Tratamento e Terapia Intensiva superlotados e o crescimento da preocupação mundial em relação à capacidade de atendimento às pessoas acometidas pela doença. Isso fez com que não restasse outra alternativa a não ser decidir, em caráter de urgência, quais seriam os critérios de escolha para a ocupação dos leitos – uma escolha de Sofia. Entre os critérios estabelecidos, estava a faixa etária, por exemplo. 

Estudo e conclusões

Em novembro do ano passado, em uma carta enviada ao Intensive Care Med, autores perguntavam a respeito da limitação de tratamento e da pressão pela qual pacientes com mais idade sofreram em unidades de tratamento intensivo na pandemia da Covid-19. A partir desse cenário, o estudo The Corona Virus disease in Very Elderly Intensive care Patients (Covid em pacientes muito idosos em unidades de terapia intensiva) foi realizado, contando com 2.984 participantes e 35 países.

O estudo refletiu sobre a relação de limitações de conduta, compreendidas como alta ou permanência no leito, entre idade e crescimento no volume de pacientes, mostrando que as limitações estavam mais presentes nos pacientes mais jovens à medida que o número de pacientes crescia. Além do fator idade, sexo, fragilidade e grau de severidade da doença também refletiram nas limitações de conduta dos pacientes em estado grave que precisavam de tratamento intensivo. 

A conclusão da pesquisa apontou que, no cenário da Covid-19, mesmo com limitações, o elevado crescimento de pacientes infectados que precisam de tratamento intensivo em um sistema de saúde sob pressão influenciou as decisões de condutas clínicas em relação à população mais idosa e aos pacientes internados.

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