Para os alunos, os destaques foram os corpos dissecados, a estrutura do laboratório e os novos olhares para a arte
O Departamento de Morfologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) realizou em 26 de setembro um curso prático de extensão voltado à Anatomia Humana para artistas visuais.
O Curso “A figura humana dissecada em módulos: anatomia humana aplicada às artes visuais”, idealizado pela Profª Livia Burchianti e Profª Dra. Mirna Duarte Barros, teve como objetivo estudar o corpo humano da mesma forma que mestres como Leonardo da Vinci e Michelangelo fizeram no passado: com peças anatômicas dissecadas.
A aula ocorreu no Laboratório de Morfologia da Faculdade e contou com a presença da Profª Livia Burchianti, Profª Dra. Mirna Duarte Barros e do Profº Dr. Rodrigo Andrade Rufino.
De acordo com a professora Livia, que é artistas visual há 20 anos, a ideia do curso surgiu com o objetivo de dar aos artistas visuais a oportunidade de estudar anatomia em peças anatômicas humanas, um dos diferenciais que a Faculdade da Santa Casa proporciona.
“Os artistas que participaram acharam a experiência inédita e inovadora e se deram conta que hoje é possível, sim, estudar Anatomia Humana da mesma maneira que Leonardo da Vinci”, relata.
O Curso foi dividido em cinco estações de estudo anatômico: a primeira, de ossos; a segunda, de articulações; a terceira, de um espécime “pouco dissecado”, cuja pele e tecido subcutâneo estavam rebatidos de maneira semelhante a “páginas de livro”, a fim de se compreender a estratigrafia superficial desta região; a quarta, de dissecção superficial, com objetivo de mostrar estruturas como vasos da rede venosa superficial; e a quinta, de dissecção profunda, em que a fáscia muscular foi removida e os músculos estavam evidentes.
A artista visual Kazuyo Yamada se inscreveu no curso para olhar o desenho sob outras óticas. “Como professora de desenho, eu queria me reunir ao grupo em busca de novas didáticas e principalmente como me apoiar nos ‘corpos dissecados”, diz.
“Eu estou acostumada a olhar a forma “externa” e representar sobre os corpos dos modelos vivos, os órgãos internos (pintura corporal) e me questionei como seria o caminho contrário? De dentro para fora? Eu achei instigante”, relata a aluna.
Kazuyo também destaca a confiança que o curso transmitiu para sua formação, evidenciando a didática da professora, que, desde o início indicou as possibilidades de novos olhares; a organização dos módulos; e a estrutura física do laboratório e dos materiais para observação.
Por fim, a professora de desenhou destacou o respeito que o departamento tem em relação aos corpos dissecados, que ocorrem através das orientações com os cuidados aos corpos e pela Missa do Cadáver.
Já a artista visual Leticia Chamone se inscreveu no curso para se aprimorar no traço da anatomia humana, principalmente em relação à variação das formas conforme o movimento. “Muitas vezes ‘memorizamos’ proporções e musculatura com referência em outros artistas ou simplificamos as formas para evitar erros”, diz.
A dinâmica das atividades e a liberdade em questionar e interagir com os modelos dissecados foram considerados excelentes para a aluna. Além disso, Leticia também destacou a preservação dos membros humanos e a possibilidade de visualizar as espessuras do tecido cutâneo como diferenciais do curso. “A perfeita preservação ofereceu ótimo realismo e perspectiva do nosso mecanismo interno, e foi inusitado visualizar as espessuras do tecido cutâneo, que influenciam diretamente na variação da tonalidades da pele pela vascularização”, pontua a artista.
Assim como Kazuyo, Leticia também elogiou o conhecimento dos professores. “Os conhecimentos sobre as interconexões entre os músculos, ossos e tendões desvelou muitos mitos”, diz.