O evento apresentou os níveis do TEA e a importância do lúdico para trazer o alimento para a realidade da criança
A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) realizou, em 14 de novembro, um Workshop de Educação Nutricional. O evento foi organizado pelo curso de Nutrição e visou explicar o que é o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e a seletividade alimentar, além de apresentar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN).
O Workshop contou com a presença de Cristiane Teles, nutricionista especializada em seletividade alimentar e TEA, e professora da Universidade Piaget, em Suzano (SP).
A palestrante reforçou que todos os profissionais da saúde e da educação precisam saber sobre o TEA e as comorbidades do espectro, principalmente no que diz respeito à alimentação e nutrição. “Tanto o autismo quanto a seletividade alimentar têm muitas particularidades e, portanto, muitas dificuldades relacionadas à própria alimentação e nutrição.”
“Meu objetivo é apresentar como podemos melhorar essa seletividade sem tornar isso mais um peso para a criança e para a família. A intenção é promover a mudança de comportamento de forma mais leve e lúdica, porque, quando a criança consegue se conectar totalmente com o alimento, conseguimos inserir, de forma mais tranquila, alimentos mais saudáveis e que auxiliem em seu desenvolvimento”, explica Cristiane.
O Workshop de Educação Nutricional ocorreu de forma teórica e prática, em que a palestrante explicou os níveis do TEA e a importância do lúdico para aproximar o alimento da realidade da criança.
Segundo Cristiane, o profissional deve entender por que a criança não aceita determinado alimento e de que forma o paciente pode formar hábitos alimentares e memórias afetivas com o alimento, superando dificuldades por meio da construção de vínculos.
Uma das formas de educação alimentar é iniciar a intervenção com livros educativos ou infantis e, depois, apresentar materiais com os quais a criança possa brincar. A partir da brincadeira, conforme a criança for avançando no tratamento, a profissional de saúde apresenta o próprio alimento. Essa abertura ocorre por estímulos internos e sensoriais, intervindo da melhor forma possível.
“Muitas crianças têm questões em que o alimento, na forma de alimento, não é tolerado nem mesmo por perto; então, precisamos trazer o lúdico para reaproximar e, depois, inserir o alimento no contexto. Acontece que a casa da criança é um ambiente estressante para a alimentação, porque ali já foi padronizado que ir para a mesa é um momento difícil, de bronca e de tristeza da mãe, que quer que a criança coma e ela não dá conta de comer… E aí, quando ela vai para o consultório e conseguimos trabalhar dessa forma, pelo brinquedo e pelo lúdico, para depois trazer o alimento, a criança se desarma para recebê-lo. Isso ajuda no processo de reaproximação e reconexão com o alimento”, reforça a profissional.
A realização de um workshop sobre o tema foi fundamental para a formação dos futuros nutricionistas. “É extremamente importante para os estudantes já conhecerem os públicos divergentes, que requerem tratamento totalmente diferenciado e para os quais ainda temos poucos profissionais que atuam com essas particularidades, tanto no autismo quanto na seletividade alimentar.”
“Então, uma aula assim desperta no aluno a curiosidade para que, de repente, ele seja o próximo profissional no mercado que atenda e se especialize nesse público que precisa de um olhar diferenciado”, diz.
Por fim, a nutricionista reforçou que não se deve criticar nenhum tipo de alimento, mesmo que não seja saudável.
“O fato de estar desbalanceado nutricionalmente é ruim, mas é o que mantém a criança viva. É o alimento daquela criança e não um lixo. Assim, para trabalharmos com esse público, precisamos desconstruir alguns padrões que temos em relação ao alimentar e nutrir, além de levar em consideração que a família não oferece esse alimento porque é mais fácil, mas porque, no desespero, é o que ela consegue inserir. Precisamos ter muita empatia, muito respeito e um olhar totalmente diferenciados em relação ao que é habitual. Devemos sempre lembrar que todo paciente é o maior da vida de alguém; então, precisamos ter muito amor para olhar para essas pessoas”, conclui Cristiane.
A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é um campo de conhecimento e prática que visa promover hábitos alimentares saudáveis, de forma autônoma e voluntária. O campo utiliza métodos educativos para dialogar com as pessoas e incentivá-las a fazer escolhas conscientes que melhorem a qualidade de vida.