03/10/2022

Alunos e professores apresentam resultados da 2ª Expedição Abaré Nos oito dias de atendimento, foram realizadas mais de 400 consultas médicas a 1249 famílias no navio hospital-escola

Alunos e professores da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) que participaram da Expedição Abaré 2022 apresentaram na manhã desta terça-feira (27/set) os resultados da ação de extensão, que foi realizada entre os dias 20 e 27 de agosto. Este foi o segundo ano consecutivo que a Faculdade participa do projeto que leva assistência médica e promoção em saúde a populações ribeirinhas e indígenas residentes às margens do Rio Tapajós, no estado do Pará. O projeto é realizado em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), com a Rede Integrada de Desenvolvimento Humano (RIDH), além das secretarias de saúde dos municípios envolvidos.

Professora Rosane Lowenthal: expedição mostra a importância dos determinantes sociais na saúde

Nos oito dias de atendimento foram realizadas mais de 400 consultas médicas a 1249 famílias de 30 comunidades dos municípios de Aveiro e Belterra, localizados no oeste do estado. Em cada um dos cinco consultórios instalados no navio hospital-escola — que atendiam as especialidades de atenção primária, psiquiatria e infectologia, entre outras — foram realizados cerca de 12 atendimentos por consultório/turno, além dos serviços de triagem, exames laboratoriais, exames de ultrassom, pré-natais, dispensação de medicamentos e diversas consultas domiciliares. Também foram apoiadas iniciativas de Educação em Saúde, como o Projeto Sorriso, de saúde bucal, e a ação direcionada à prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) em adolescentes de escolas públicas da região.

De acordo com a professora Dra. Rosane Lowenthal, docente dos departamentos de Atenção Primária e de Saúde Mental da FCMSCSP e coordenadora da ação, a Expedição Abaré faz parte do estágio eletivo do desenho de carreira dos estágios de Infectologia e de Atenção primária à Saúde do curso de Medicina. Apesar de se tratar de um projeto de extensão, a atividade é curricular compreendendo um planejamento de ações desenvolvido em conjunto por professores e alunos. “Com a experiência da Expedição Abaré, passamos a ser mais críticos em relação aos determinantes sociais e seu impacto na saúde, e isso nos faz refletir sobre as responsabilidades que devemos ter com aquelas pessoas, com aqueles pacientes, que é muito mais do que simplesmente atendê-los”, disse. “Temos que, enquanto Faculdade, olhá-los com uma responsabilidade maior.”

Curso de Medicina completa ciclo de reformulação do currículo, agora baseado em competências 

Em 2022 o curso de Medicina fecha o ciclo de reformulação de sua base curricular, em que as atividades de extensão ganharão cada vez mais espaço, seja por força de regulamentação ou de reforço à tradição da escola de Medicina da FCMSCSP. O novo currículo, baseado em competências, considera o contexto social em que as pessoas vivem como um elemento decisivo na formação de cidadãos e profissionais médicos. 

Para o professor Adriano Namo Cury, o novo currículo de Medicina da FCMSCSP contempla o alinhamento das necessidades da sociedade à vocação e história da Faculdade

O diretor do curso de Medicina, professor Dr. Adriano Namo Cury, avalia que a instituição tem se colocado à frente nesse processo de reformulação curricular, e ações como a Expedição Abaré e o Programa de Expedições Científicas e Assistenciais (PECA), realizado anualmente em municípios do estado de São Paulo, são exemplos desse entendimento. “O novo currículo do curso de Medicina parte de uma percepção das necessidades da sociedade versus um alinhamento ao que somos”, disse. “Estamos sinalizando à sociedade a contribuição que podemos oferecer para o momento atual da medicina e do ensino médico no mundo.”

A relevância do novo currículo do curso de Medicina da Faculdade da Santa Casa de SP pode ser notada no ensino que destaca a importância do território e das diversas implicações sociais decorrentes das vivências do espaço, como a necessidade de assistência a populações vulneráveis. “Os relatos dos alunos sobre a Expedição Abaré mostram que o novo currículo está sendo aplicado na prática, além de mostrar a força da extensão”, destaca a professora Giselle Burlamaqui Klautau, vice-diretora do curso de Medicina. “Trata-se de uma experiência disruptiva, que auxilia na identificação das necessidades de aprendizado.”

Professora Giselle Klautau acredita que a experiência foi disruptiva, auxiliando na identificação das necessidades de aprendizado

Além do conhecimento, fundamental na formação médica, habilidades e atitudes também são elementos importantes na graduação dos profissionais. Assim, o saber técnico deve englobar, além dos conhecimentos, as habilidades e atitudes ligadas ao contexto social. “A compreensão da realidade faz parte de uma extensão revolucionária, que considera a história de vida das pessoas”, disse. “Temos que pensar na atividade extensionista todos os dias, porque é o currículo futuro.”

 

Experiência transformadora na vida pessoal e profissional

Gabriel Chun: apoio interdisciplinar mútuo em aprendizado intenso

Para o aluno Gabriel Chun, do 6º ano do curso de Medicina, a Expedição Abaré foi a oportunidade de extensão mais transformadora em sua vida pessoal e profissional que experienciou durante a faculdade. Chun, que se considera um entusiasta dos projetos de extensão da FCMSCSP, acredita que a profissão médica vai além das quatro paredes do consultório e que saúde não é somente o que se faz no atendimento, mas tudo que diz respeito ao ser humano. “Foi um aprendizado muito intenso, que me fez notar que podemos ter uma visão mais crítica das coisas. Aprendemos muito com a tripulação e com os que estavam dentro do barco”, conta. “Havia momentos que precisávamos de muito apoio um do outro. Esta é uma experiência que se faz em grupo e me ensinou a lidar com diversas situações que acontecem em nosso Brasil e chocam a nossa realidade. É uma vivência que eu gostaria que todos os alunos pudessem passar.”

 

Olhar o paciente com cuidado e por inteiro 

Mayumi Takeda: compreensão das vivências do paciente faz total sentido

Já a aluna Mayumi Takeda, também do 6º ano, destaca que a Expedição Abaré foi uma oportunidade para ver o paciente como um todo, desde a entrada no consultório, sua necessidade de saúde e história pessoal. “Muitos necessitavam de medicação, mas também precisavam de um olhar com carinho, de alguém para escutá-los. Trata-se de uma população desassistida, vulnerável”, disse. “Compreender a estrutura que as pessoas vivem, sua casa, a família, o que comem, faz muito sentido. Na Faculdade aprendi a observar os detalhes, como se o paciente sabe ler ou se vai compreender a receita. Conseguimos ter essa experiência, de ficar imersos, de olhar o paciente com cuidado e por inteiro.”

 

Vivência dá confiança para ser médico 

Eduardo Arieta: participação em todos estágios do atendimento possibilita mais confiança na formação

A possibilidade de um contato mais próximo com professores foi o que mais chamou atenção do aluno Eduardo Arieta, do 6º ano. “Diferentemente de outros estágios, no Abaré pudemos fazer diretamente as consultas e estabelecer as condutas, discutindo diretamente com os professores, que mostraram como um preceptor tem que ser”, disse. “Isso dá uma confiança muito grande para a gente poder se formar.” Para ele, os 12 dias de expedição serviram para reforçar sua confiança para os desafios profissionais que enfrentará a partir de 2023, quando será um médico. “Esse estágio, quase no apagar das luzes da faculdade, foi o que mais aprendi. Realizamos 12 consultas num período de 4 horas, participando da triagem, do laboratório, da visita domiciliar. Pudemos ver a saúde como um todo e realizar da prevenção primária à quaternária.”

 

Aprendizado interdisciplinar 

Jéssica Antonio: mudanças na conduta profissional e aumento na capacidade de lidar com situações novas

A aluna Jéssica Donato Antonio considera que a experiência será responsável por mudanças significativas em sua conduta profissional, lhe permitindo enxergar os pacientes de forma diferente e aumentando sua capacidade de lidar com situações novas. “Questiono por que essa ação impactou tanto em nossa formação se temos em nossa porta perfis parecidos, com vulnerabilidades tão semelhantes”, disse. “Claro que no Abaré estamos, literalmente, dentro do rio Tapajós, com a natureza ali perto. É um dia a dia que não estamos acostumados, que não é nosso. Saímos da zona de conforto e contamos com o apoio de profissionais incríveis, o que nos possibilitou um aprendizado interdisciplinar.

 

Expedição Abaré 2022

Diretores da FAVC e da FCMSCSP participaram do evento

Integraram a expedição, além da professora Rosane Lowenthal, os professores Dr. Ricardo Riyoiti Uchida, do Departamento de Saúde Mental da FCMSCSP; Pedro da Silva Campana, do Departamento de Clínica Médica, disciplina de Infectologia; Abílio de Souza Junior, do Departamento de Atenção Primária; e a professora Mariana Morais Campos de Carvalho, do Departamento de Saúde Coletiva.

Participaram do evento de recepção aos alunos e professores o presidente da Diretoria Executiva da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, Dr. João Clímaco Penna Trindade; o gerente geral da FAVC, João Carlos Nunes; o reitor da FCMSCSP, professor Dr. José Eduardo Lutaif Dolci; o vice-reitor da FCMSCSP, professor Dr. Irineu Francisco Delfino Silva Massaia; a diretora do curso de Fonoaudiologia, professora Dra. Noemi Takiuchi; o diretor dos cursos de Tecnologia da FCMSCSP, professor Me. Rafael Eidi Goto; o vice-diretor dos Cursos Superiores de Tecnologia, professor Me. Felipe Favaro Capeleti; a coordenadora de Extensão da FCMSCSP, professora Dra. Adriana Limongeli Gurgueira; e a professora Dra. Michele Ferrer, do Departamento de Atenção Primária à Saúde.

 

Assista o vídeo produzido pelos alunos da Expedição Abaré 2022:

Confira o registro de alguns momentos da experiência: