21/09/2018
É consenso internacional a grande relevância de um processo de comunicação efetivo para a diminuição dos riscos aos quais o paciente é submetido no ambiente hospitalar. Organizações de saúde, instituições certificadoras de qualidade e a comunidade acadêmica disponibilizam pesquisas com números alarmantes e atuais, no Brasil e no mundo, de eventos adversos causados por falhas na comunicação entre os profissionais de saúde. Neste contexto, o Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Santa Casa de São Paulo escolheu o tema “A Comunicação Segura no Cuidado de Enfermagem” para as palestras e debates do IX Seminário de Comunicação Profa. Dra. Hideko Takeuchi Forcella, realizado no dia 19 de setembro.
Quatro profissionais apresentaram aos estudantes dados de diferentes fontes que apontaram o quanto a segurança e o bem-estar do paciente dependem da comunicação, assim como revelaram as consequências de sua negligência, incluindo atrasos nos tratamentos, aumentos nos custos, complicações e óbitos.
A Profa. Mestra Maria Aparecida Novaes, especialista em gestão de recursos humanos na área hospitalar, destacou que as falhas na comunicação foram apontadas como a segunda principal causa raiz de eventos sentinela entre 2005 e 2017, de acordo com estudo da Joint Commission International. Lembrando que a comunicação segura é uma prática organizacional exigida pelas acreditadoras de qualidade, Maria Aparecida deu orientações sobre como superar barreiras pessoais, físicas e semânticas no processo de ouvir e falar.
Em sua palestra sobre comunicação na passagem de plantão, a Profa. Dra. Rosimeire de Queiroz Soares, docente do curso de Enfermagem da FCM/Santa Casa, salientou que melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde é uma das seis metas internacionais, estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para garantir a segurança do paciente. Uma das pesquisas acadêmicas comentadas pela professora revelou como principais problemas na comunicação: não transmissão da informação, transmissão da informação erroneamente, não recebimento da informação transmitida e não compreensão desta informação.
Rosimeire, que também é enfermeira do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, detalhou o uso da metodologia SBAR para a passagem de plantão. Usada em hospitais de todo o mundo, a técnica consiste no preenchimento de quatro critérios: S (Situation), B (Background); A (Assesment) e R (Recommendation). “É um modelo mental de raciocínio que diminui a subjetividade na transmissão da informação”, explicou. “A comunicação não deve ser vista como um processo inato. Quando padronizada, ela melhora a assistência, evitando erros”, completou.
Outras estratégias para melhorar as trocas de informações entre os profissionais de saúde foram apresentadas pela Profa. Dra. Daniela Campos de Andrade Lourenção, membro do grupo de pesquisa Qualidade e Avaliação de Serviços de Enfermagem e de Saúde, do programa de pós-graduação em Gerenciamento em Enfermagem da USP. Com foco na comunicação segura dentro do centro cirúrgico, Daniela expôs o check list da campanha de cirurgia segura da OMS, que exige da equipe a revisão das informações em três momentos: antes da indução anestésica, antes de iniciar a cirurgia e antes de o paciente sair da sala cirúrgica.
Daniela também mencionou o treinamento CRM (Crewn Resource Manengement), que visa o aprimoramento da comunicação e do trabalho em equipe, e a técnica Read-Back, que compreende em anotar as orientações recebidas oralmente e reler o que escreveu para quem deu a orientação. “Não são estratégias complicadas e não requerem muito investimento. Apenas é necessária uma liderança comprometida com sua implementação”, frisou.
Comunicação como arte e remédio
O IX Seminário de comunicação também abordou a comunicação entre a equipe de enfermagem e o paciente. A Profa. Dra. Maria Júlia Paes da Silva, titular da Escola de Enfermagem da USP, mostrou como os enfermeiros podem atuar na humanização do cuidado por meio de uma comunicação terapêutica.
Segundo Maria Júlia, esta comunicação envolve valores como confiança (é preciso coerência entre o que é dito e o que é feito), disponibilidade (ter o compromisso de realmente caminhar junto com o paciente), honestidade e amorosidade (falar a verdade de forma gradativa e suportável), dignidade e respeito. “A forma como nós fazemos nosso trabalho muda tudo. A pessoa sabe quando não estamos interessados nela. Podemos não oferecer a cura, mas não precisamos fazê-la sentir-se pior do que já está se sentindo”, disse.
A professora enfatizou a importância de observar o paciente além do diagnóstico e enxergar pessoas e suas histórias. Maria Julia ressaltou também a dimensão não verbal da comunicação humana, que inclui altura e entonação de voz, bem como a mensagem corporal. “Estamos deixando de criar vínculos com mais facilidade por não prestarmos atenção nesses aspectos”, alertou.
Homenagem
O Seminário de Comunicação do Curso de Graduação em Enfermagem leva o nome da enfermeira e professora Hideko Takeuchi Forcella, que faleceu em 2010. Ela foi docente da FCM/Santa Casa, da Escola de Enfermagem da USP e do Centro de Estudos e Pesquisa do Hospital Nove de Julho. Com experiência em enfermagem psiquiátrica, a professora atuou com destaque nas áreas de saúde mental, relacionamento terapêutico enfermeira-paciente e comunicação terapêutica. “Pensamos em realizar uma homenagem que fosse mais significativa que um nome em uma placa. Como a professora Hideko trabalhou muito a comunicação, idealizamos o seminário que, ao mesmo tempo, mantém sua lembrança viva e educa os estudantes de enfermagem”, conta a Profa. Dra. Maria do Carmo Avelar, diretora do Curso de Graduação em Enfermagem da FCM/Santa Casa.