10/06/2022

Médico formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP torna-se mestre pela Harvard University e é aceito no pós-doutorado na Universidade da Califórnia Dr. Vinícius Andreoli Schoeps iniciou sua carreira na área da pesquisa depois de participar do Programa Pesquisadores do Futuro, da FCMSCSP

A esclerose múltipla é uma doença crônica, sem causa definida e que pode tornar jovens adultos incapazes – além dos altos custos de tratamento para a sociedade. Mas essa batalha conta com o valioso apoio do Dr. Vinícius Andreoli Schoeps na busca de possíveis tratamentos preventivos através do entendimento de seus fatores de risco.

Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), residente em Neurologia Clínica pela Santa Casa de Misericórdia, e agora mestre pela Harvard University – uma das melhores universidades do mundo, com 150 laureados com o Prêmio Nobel -, o doutor pesquisa fatores de risco para o desenvolvimento da esclerose múltipla, relacionando as áreas da Neurologia e Imunologia.

Vinícius conversou com a equipe de Comunicação da Faculdade sobre sua trajetória profissional, como surgiu seu interesse pela área da pesquisa e quais são seus próximos passos agora que se formou no mestrado. Para ele, a carreira acadêmica e a prática médica não são excludentes: as dores da prática levam a perguntas que nos fazem buscar por respostas, por meio da pesquisa, para minimizar o sofrimento. Confira a seguir a entrevista na íntegra.

Vocação ou destino?

Desde minha infância, sempre me senti atraído por áreas que envolvem resolução de problemas através de análise e colaboração, englobando ciência, tecnologia e matemática. Acredito que a admiração pelo trabalho do meu pai como engenheiro fez com que eu inicialmente me identificasse mais com essa profissão. Mas um interesse pelas ciências naturais foi crescendo dentro de mim sem que me desse conta. Curiosamente, à época, preenchi minha ficha de inscrição na FUVEST a lápis, para aplicar ao curso de engenharia química – mas algo parecia fora do lugar. Ao despertar no dia seguinte, tive certeza de que minha missão era outra. Agradeço todos os dias por essa noite, que até hoje me intriga.

Depois de tomada essa decisão, busquei me informar sobre como obter uma formação de excelência. Como não tinha médicos na família, procurei o serviço de aconselhamento de alunos do Colégio Bandeirantes, que me apresentou a Faculdade da Santa Casa como uma instituição tradicional entre as melhores escolas de nosso país.

O início da carreira acadêmica

Logo nos primeiros anos de faculdade, ficou evidente o quanto nosso ensino era robusto e amparado por valores de respeito e misericórdia. Aprendi com rigor sobre ciência, mas também sobre as dores do sofrimento humano. Fui cativado pelos desafios e limitações da neurociência e fiz minha residência médica em Neurologia Clínica, também na Santa Casa. Um programa fascinante e bastante exigente que despertou meu interesse pela intersecção entre imunologia e neurologia, evidente em pacientes com doenças como a esclerose múltipla.

Fiz minha especialização em Neuroimunologia, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), onde atuei pelos anos que se seguiram paralelamente com atuação no Pronto Socorro Central da Santa Casa, e como professor convidado no curso de Neurologia para alunos do 4º ano da nossa Faculdade. Também atuei no setor privado, nas equipes de retaguarda de neurologia do Hospital Sírio Libanês e Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Os contrastes no acesso a imunobiológicos de alto custo nesses diferentes ambientes me fizeram vivenciar o quanto o nosso resultado assistencial depende não só da geração de conhecimento através de pesquisa clínica, mas também da estrutura dos sistemas de saúde no qual nossos pacientes estão inseridos. Nesse sentido, realizei um MBA em gestão hospitalar e sistemas de saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ingressei no mestrado em epidemiologia na Universidade de Harvard – que fundamenta a medicina baseada em evidência, fornecendo ferramentas para realização de estudos intervencionistas ou observacionais em seres humanos.

Gosto pela pesquisa

Buscar respostas para perguntas sempre foi algo muito cativante, mas foi durante os primeiros anos da faculdade que identifiquei este como um rumo a seguir. Fundamentalmente, o professor Wagner Montor, do Departamento de Ciências Fisiológicas, me motivou com incansáveis discussões metodológicas em pesquisa básica. Nos anos subsequentes, encontrei outros brilhantes mentores nesta instituição, como os professores José Mendes Aldrighi, Wilma Neves Forte, Thomaz Rocha, Maria Fernanda Mendes, Rafael Paternó e Marcel Simis para citar alguns, que me estimularam a continuar trilhando esse caminho e que me mostraram os desafios e fascínios da pesquisa clínica além de sua importância para o cuidado de excelência.

Programa Pesquisadores do Futuro: como foi e como influenciou no mestrado?

Tive uma experiência ímpar de vivenciar de maneira intensiva uma rotina de pesquisa básica na Brown University. O que disse à época, após a conclusão do programa, continua válido: mudou minha visão sobre metodologia e meu entendimento sobre os limites do que nós como humanidade podemos atingir. Certamente posso dizer que impacta minha vida até os dias de hoje.
Acredito que o programa deixou claro para mim que, se fosse possível, pesquisa seria parte fundamental do meu dia a dia no futuro. Acredito, também, que currículos concordantes com as aspirações de carreira são bastante importantes.

Rotina em Harvard

Tive um grande volume de horas de dedicação para cada uma das disciplinas e com uma abordagem bastante prática e ativa. Acho fascinante o quanto todo o time de ensino se esmera para que esses projetos sejam executados com dados reais e levam ao desenvolvimento de soluções aplicáveis. A interação com pessoas de diferentes partes do globo traz uma perspectiva única para os mesmos problemas nos mais variados cenários.

Planos de futuro

Fui aceito como pós-doutorando na Universidade da Califórnia, São Francisco, onde pretendo integrar os conhecimentos adquiridos em um dos mais renomados centros de esclerose múltipla dos Estados Unidos. Aqui tenho a oportunidade de estudar esses fatores de risco em crianças, que estão mais próximas do insulto que gerou a doença, e ganhar experiência prática no planejamento e monitoramento de ensaios clínicos.

Conselho aos jovens pesquisadores

Em primeiro lugar, valorize a sua formação. Na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, todos os recursos necessários para acesso ao conhecimento técnico estão disponíveis, e nossa realidade brasileira de recursos limitados faz com que tenhamos um raciocínio clínico extremamente aguçado, ao mesmo tempo que somos capazes de integrar tecnologias de ponta quando necessário. Em segundo, a carreira acadêmica e prática médica não são excludentes. Pelo contrário, é um ciclo de retroalimentação positiva – as dores da prática que nos levam a perguntas e as perguntas que nos levam a minimizar o sofrimento. E, por fim, parafraseando o presidente da Harvard University, Lawrence Bascow, “o mundo nunca precisou tanto de você”.