10/02/2022
A artista plástica Leila Lagonegro é uma das participantes da exposição comemorativa ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, que está acontecendo até o dia 28 de fevereiro em diversos pontos da cidade. Leila é médica psiquiatra, tendo se formado na primeira turma do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), no ano de 1968. A exposição está sendo organizada pela Galeria Verarte, com a curadoria de Vera Simões.
Na exposição, ela apresenta três obras, sendo uma delas — Convivência pacífica —, concebida no final do ano passado, tendo sido criada especialmente para a comemoração. O tema foi inspirado na obra do pintor, ilustrador, decorador, escultor e artista gráfico suíço-americano John Louis Graz. Casado com uma brasileira e vindo morar no Brasil, o trabalho de John Graz se reporta aos índios na caça, pesca e outras atividades do seu cotidiano. “Verificando entre os participantes desta homenagem à Semana de Arte Moderna, a curadoria da exposição avaliou que a obra de Graz era a que tinha mais conexão com a minha maneira de pintar”, conta Leila. “Trouxemos esse cotidiano para o presente com os moradores de rua, que é o que vemos na cidade.”
‘Convivência pacífica’ é uma das obras cuja reprodução plastificada medindo 3m x 7m está no painel apresentado na fachada do Conjunto Nacional que fica na Avenida Paulista, 2073. A pintura, originalmente medindo 0,70m x 1,40m feita em acrílico sobre tela, retrata moradores de moradores de rua que estão pacificamente num local. “Não estão assaltando, não estão incomodando ninguém, estão relaxados, apáticos aos interesses das pessoas comuns”, explica a artista plástica. “Estão lá, uns deitados, uma mulher sentada com a filha observando o que está acontecendo, outro morador na porta de sua barraca. Há pombos andando na rua e um cachorro que está deitado junto a um desses personagens.”
Leila acredita que é como perigosas que, equivocadamente, a maioria das pessoas enxerga essa parte da sociedade que não que não tem condições financeiras e que, na maioria das vezes, não teve ou tem acesso à educação. “Vejo que eles são pacíficos, desinteressados pela vida, estão lá deitados, em pleno meio dia, apáticos e sem rumo”, intuiu para pintar o quadro.
Além de ‘Convivência pacífica’, Leila Lagonegro ainda participa das homenagens à Semana de Arte Moderna de 1922 com duas obras: ‘Verde’, que é uma pintura abstrata de paisagem, e ‘Confraternização’, que retrata uma mulher com uma criança no colo que está dialogando com outra mulher em clima fraterno. Estas obras podem ser vistas nas estações Paulista e Clínicas do metrô.
A arte surgiu na vida da médica, que se formou também em Pediatria e Obstetrícia, em sua análise pessoal — na qual resgatou um desejo de infância — e que passou a fazer paralelamente ao seu trabalho no consultório psiquiátrico e psicanalítico. “Fiz Medicina para ser médica, e me encantei com as aulas da professora Virgínia Bicudo que introduziu os conceitos freudianos do inconsciente no nosso curso, uma inovação no curso médico.”
Segundo ela, seu seu direcionamento na psiquiatria tem sido focado nas doenças psicossomáticas e nas neuroses. “O artista é movido pela sensibilidade, e é esta que, sem esforço, me mobiliza como médica. Assim faço a conexão da arte com o conhecimento de Hipócrates no meu exercício como psiquiatra ao dar ênfase à escuta.”
Leila conta que sua opção pela Medicina recebeu forte influência familiar. Seu tio e padrinho, Dr. Benedito Lagonegro, foi médico conceituado em São Paulo. Da mesma forma, o primo de sua mãe, Dr. Alfredo Lagonegro, reforçou sua curiosidade pela área.
Ela lembra do começo do curso de Medicina — logo no início das atividades da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em 1963 — marcado pela prática clínica. “Entrei na Faculdade dentro de um hospital: era uma enfermaria que havia se transformado em uma sala de anatomia onde eram discutidos os casos clínicos, e eu fui da primeira turma”, recorda com orgulho. “Alguns alunos tinham oportunidade de frequentar as diversas clínicas e eu acompanhava a clínica médica numa atividade extra curricular, no intervalo do almoço.”
Já na escolha pela psiquiatria, a disciplina de Psicologia Médica, a qual a FCMSCSP foi a pioneira na implantação em São Paulo, foi determinante, influenciando, também, no viés humanístico que acabou sendo uma marca e um dos principais diferenciais na formação oferecida pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. “À época, a introdução dos conceitos freudianos foi uma novidade absoluta. Não se tratava da psicologia comportamental, mas do inconsciente”, lembra. “A Medicina e a arte se juntaram a um dom nato que sempre tive: sensibilidade de ouvir e vejo nisso uma verdadeira arte.”
Para saber mais sobre a trajetória profissional da artista plástica Leila Lagonegro e conhecer mais sobre suas obras, acesse sua página no site da Galeria Verarte e na página da artista plástica no Facebook.
Assista ao depoimento de Leila Lagonegro ao projeto Santa Memória.