6/4/2020

As lições aprendidas – e os erros que voltamos a cometer – da gripe espanhola de 1918 Professor da FCM/Santa Casa é entrevistado

Em 60 dias, uma pandemia conseguiu deixar um rastro de 35 mil mortes no Brasil. Caixões eram empilhados nos cemitérios por falta de coveiros. Escolas estavam sem aulas. O comércio estava fechado. As ruas, vazias. Os espaços não foram esvaziados por orientação das autoridades sanitárias, como tem acontecido durante a pandemia do novo coronavírus. Não havia pessoas nesses lugares porque elas estavam doentes ou mortas. Apenas no Recife, na época com 238 mil habitantes, 1.250 óbitos foram registrados, ou seja, 0,5% da população morreu em menos de dois meses. O ano era 1918, e o mundo enfrentava a gripe espanhola, até hoje considerada por infectologistas “o maior holocausto médico da história”. O episódio deixou marcas pelo horror, mas também ficaram lições que podem ser aprendidas mais de um século depois.

Historiadores apontam que a epidemia da gripe espanhola – que, apesar do nome, não surgiu na Espanha, mas em um acampamento militar no Kansas, Estados Unidos – chegou ao Brasil pelo Porto de Recife, a bordo do navio português Demerara, em setembro de 1918, “ao que tudo indica vinda de Dakar, trazida por marinheiros brasileiros que prestaram serviço militar na região”, de acordo com os virologistas Hermann Schatzmayr e Maulori Cabral, no livro A virologia no estado do Rio de Janeiro. À medida que os casos aumentavam em número e gravidade, o pânico começou a tomar conta das cidades, que se tornaram cidades-fantasma, com os serviços parando. “Restaram os serviços públicos da área da saúde, totalmente caóticos e sem condições de prestar auxílio aos que os procuravam, pois sequer a etiologia real da epidemia era conhecida”, relatam Schatzmayr e Cabral.

O pesquisador José Cássio de Moraes, integrante da Comissão de Epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, lembra que a gripe espanhola surgiu no contexto da Primeira Guerra Mundial. “Em março de 1918, há o registro no acampamento militar no Kansas. Em maio, chega ao leste da África. Em agosto, na França. Em setembro, na América do Sul. O espalhamento foi mais lento no mundo (em comparação com a velocidade da Covid-19) porque os meios de transporte não eram os de hoje”, compara.

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