04/03/2022

Cursinho Popular Areguá da FCMSCSP inicia o segundo ano com projeto pedagógico melhorado Em 2021, mesmo adotando modelo 100% EAD por conta da pandemia, aprovação em vestibulares chegou a 15%

O Cursinho Popular Areguá, idealizado e desenvolvido pelos alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) entra no segundo ano de atividades. Gestado no primeiro semestre de 2020, durante o início da pandemia de covid-19, o projeto logo tomou forma e foi reconhecido pela Reitoria da FCMSCSP e pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo ainda segundo semestre daquele ano e, logo em seguida, no mês de dezembro, abriu a primeira seleção para alunos candidatos.

Na semana passada (21/fev), com o início das aulas do ano de 2022, o Areguá deu mais um passo em sua trajetória para se tornar um importante braço de extensão da Faculdade. A recepção dos 40 novos alunos que foram selecionados para participar das aulas neste ano, que ocorreu no auditório Dr. Christiano Altenfelder (Rua Jaguaribe, 155), marcou um início diferente, não somente pelo fato de que as aulas serão presenciais. “Esse ano fizemos um planejamento pensado em todas as dificuldades que tivemos ano passado, quando a gente recebeu com um grupo bastante heterogêneo, com cada aluno vindo um vindo de um lugar, cada um tendo uma base diferente”, lembra Gustavo Motta Mil Homens, um dos fundadores do cursinho e diretor em 2021. “Com essa experiência que acumulamos, a gente conseguiu montar um planejamento anual pensando em cobrir todas essas lacunas, o que resultou numa estruturação pedagógica melhor.” Em seus dois primeiros anos de atividade, o cursinho recebeu a inscrição de 410 candidatos. 

No primeiro ano, taxa de aprovação chegou a 15%; aluno Pedro Henrique Rosa Teixeira passou em Engenharia Ambiental em três universidades

O perfil dos alunos do curso é bastante semelhante: a maioria fez ensino médio na rede pública, teve uma base de formação deficitária em diversas áreas do conhecimento. Além disso, são vestibulandos que não têm condições econômicas de cursar um curso pré-vestibular presencial por causa do valor da mensalidade, demonstrando uma situação com mais vulnerabilidade socioeconômica. Dos 40 alunos que frequentaram as aulas em 2021, 6 conseguiram obter aprovação em faculdades: Jonathas Zukauskas Gonçalves de Souza – Educação Física para a UNESP e USP; Alef Gomes Nicolau – Odontologia USP; Carolina de Souza Silva – Biblioteconomia na UniFCV; Aline Conchetta Dorini da Silva – Artes Cênicas UNESP; Pedro Henrique Rosa Teixeira – Engenharia ambiental UNESP, USP e UNICAMP; e Ana Maria Fonseca – Engenharia Civil FURG. “A perspectiva é de termos mais aprovações a partir de agora, porque acreditamos que o modelo presencial traz uma interação melhor entre professor e aluno, possibilitando uma criação de vínculo maior entre os alunos e o curso, além disso estamos melhor estruturados.”

Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho garantiu estrutura e suporte em apoio ao projeto

Neste segundo ano de atividades, as mudanças vão muito além do formato, que passou de 100% EAD em 2021 para presencial a partir de agora. A Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho (FAVC), que é a mantenedora da FCMSCSP, destinou uma sala fixa para a realização das aulas e demais atividades, cedeu equipamentos e garantiu suprimentos para manutenção das atividades. Além disso, os alunos terão acesso à Biblioteca da FCMSCSP, podendo acessar todo o seu acervo e servindo também como local de estudo. Essa infraestrutura de apoio oferecida pela instituição se soma a doações de diversos equipamentos que foram recebidos pelo cursinho no ano passado, como notebooks, celulares e tablets. “Na primeira semana de aula dedicamos à introdução e ao aprofundamento de temas essenciais para homogeneizar e nivelar o conhecimento do grupo”, comenta. “Ano passado notamos certa dificuldade em algumas disciplinas, principalmente na área de exatas e redação.” Para tentar melhorar essa deficiência, irá se somar aos 36 professores do cursinho o único voluntário que não é aluno da Faculdade, o professor de redação Gustavo Moretti Duarte.

Em 2021, os 40 alunos tiveram, entre fevereiro e outubro, aulas 100% remotas. “Foi um pouco complicado, porque limita muito a interação entre professor e aluno, contudo, tivemos a sorte de ter uma turma muito participativa, que ligava a câmera e fazia perguntas, então, apesar desse distanciamento físico, conseguimos ter uma interação boa com os alunos”, destaca uma das fundadoras do Areguá e a atual diretora-geral, Luana Campos. “Felizmente, essas condições não tiveram um impacto significativo porque tivemos ótimos resultados no final do ano, e agora, queremos resultados melhores ainda.”

Jonathas Zukauskas Gonçalves de Souza mora na Zona Leste de São Paulo, no Butantã, com seus pais e irmã. Ele foi um dos estudantes que obteve aprovação por meio do Areguá, tendo sido aprovado para Educação Física em duas universidades, a UNESP e a USP. “Se não tivesse passado no Areguá, possivelmente eu estudaria por conta própria, com os livros da escola mesmo e, possivelmente, seria bem mais difícil de ingressar na faculdade”, prevê. Segundo ele, os professores e plantonistas sempre estavam à disposição dos alunos, se precisasse repetir questões, quantas vezes fosse necessário, mesmo no modelo EAD, sempre tinha alguém para responder as dúvidas. “Todos na minha família ficaram muito alegres. Eu fui o primeiro a passar numa universidade pública. Agora, quero conquistar o diploma e trabalhar como preparador físico, que é o meu sonho.”

Parceria com o cursinho Anglo foi fundamental para viabilizar as atividades do Areguá

Um apoio importante no primeiro ano de funcionamento do Areguá veio por meio do cursinho Anglo. Por meio desta parceria, o cursinho doou todo o material didático utilizado pelos alunos durante o ano, como apostilas, caderno de exercícios, que são disponibilizados pelo Faraday, que é o material do anglo semi-extensivo. Além disso, o Anglo disponibilizou sua plataforma virtual para os alunos do Areguá utilizarem: a Plural. Nela foi possível postar o conteúdo trabalhado em sala de aula e onde eram criados os links das aulas EAD. “O recurso é muito bom que nos ajudou muito durante a pandemia”, elogia Laura. Para este ano, a parceria com o Anglo já foi renovada, e o cursinho continuará oferecendo o material utilizado nas aulas (apostilas). Além disso, os professores terão acesso ao serviço de impressão disponibilizado pela Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho para a produção de materiais extras curriculares.

Para os fundadores do Areguá, formação humanizada, uma das marcas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, está no DNA do Areguá

Coordenadores do Areguá, Luana Campos e Gustavo Motta Mil Homens, comemoram os resultados do primeiro ano do projeto

A formação de médicos e profissionais de saúde humanizados é uma das marcas da história de 59 anos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e o Areguá parece manter viva essa chama. “Acho que isso é totalmente vinculado ao DNA humanizado da Santa Casa”, afirma Luana. “Isso está no perfil dos nossos voluntários, por exemplo, que é um pessoal que tem essa preocupação, que sabe que a educação brasileira é problemática, que vários alunos não têm a oportunidade de estar onde estamos hoje, numa faculdade particular, que é bem elitizada. Então, é voltar o olhar para as pessoas que estão tentando chegar aonde a gente chegou e tentar ajudar essas pessoas. Essa é a ideia que todo mundo que faz parte aderiu.”

Já Gustavo, considera muito gratificante ver que tudo saiu do papel, que um desejo das 14 pessoas que iniciaram o projeto e que trabalharam muitos meses para que tudo o que se tem hoje fosse alcançado. “Em termos de qualidade, conseguimos nos igualar a cursinhos que estão aí há mais de 20 anos atuando”, declara. “Em menos de dois anos de atividade a gente já está nivelado com eles, e isso é uma grande conquista para a gente.”

Ele acredita que o envolvimento com o Areguá contribui para a formação dos alunos do ponto de vista acadêmico. “Você acaba melhorando suas qualidades de explicação, de apresentação, realmente se comunica com as pessoas, e isso é algo muito benéfico para os alunos”, disse. “Todo mundo gosta do projeto e quer ser voluntário. Não é só uma ação social muito bonita, mas algo que também agrega à nossa trajetória profissional.”

Os bons resultados que vêm sendo obtidos, se devem à dedicação de todos, não só dos alunos, estudando, fazendo a parte deles, mas também da equipe diretiva do Areguá, que adotaram a ideia do cursinho como uma missão de vida, além do apoio dos voluntários, plantonistas, tutores e professores. “Com todo mundo trabalhando em conjunto, foi possível estruturar muito bem o cursinho e trazer esses resultados ótimos que a gente teve”, disse Luana. “Estou extremamente satisfeita de estar fazendo parte deste processo desde o início, ter idealizado e participado da fundação. A gente não imaginava que teria resultados tão bons, que conseguiria passar aluno num vestibular, numa faculdade: foi uma surpresa muito grande.”

Vice-reitor Irineu Massaia destaca o impacto social das ações da FCMSCSP

O vice-reitor da FCMSCSP, professor Dr. Irineu Francisco Delfino Silva Massaia, destacou que o projeto do curso social de pré-vestibular é mais uma ação dentro do guarda-chuva dos projetos de extensão da Faculdade, assim como o Programa Expedições Científicas e Assistenciais (PECA), o Projeto Abaré e diversas intervenções que trazem impacto social e colocam o aluno da FCMSCSP num ambiente de contribuição, aprendizado e de gestão dos recursos para gerar impacto social positivo. “O cursinho social é mais uma vitória nesse sentido”, destacou. “Estamos muito felizes com o início desta segunda edição, tendo em vista que o resultado obtido no ano passado, um ano de pandemia, foi muito auspicioso.” Irineu agradeceu ainda o apoio recebido da FAVC para a concretização do projeto. “Uma das marcas da gestão do professor Dolci (Dr. José Eduardo Lutaif Dolci, reitor da FCMSCSP) é apoiar atividades de extensão de impacto social em nossa Faculdade, em que os acadêmicos, com a estrutura da instituição, com material pedagógico e outros recursos conseguem trazer para o aluno do cursinho a capacidade de produzir conhecimento e se ater às diferentes matérias que uma prova de vestibular exige. Termos conseguido isso num curto espaço de tempo é entusiasmante.”

Como funciona o Areguá

A partir do mês de dezembro se inicia a seleção de alunos para o próximo ano. É feita uma espécie de triagem em três etapas: primeiro é respondido um formulário de inscrição com um questionário socioeconômico para conhecer se melhor o perfil dos alunos; na segunda parte é feita uma prova de 50 questões, que também é fornecida pelo Anglo. Já na terceira e última etapa, é feita uma entrevista do candidato com a diretoria do cursinho, que dura cerca de 20 minutos. O resultado desses três processos irão compor a nota classificatória dos alunos. Entre as contrapartidas exigidas pelo Areguá para os selecionados está a presença em, no mínimo, 75% das aulas e em 50% nos simulados.

Diretorias do cursinho popular da FCMSCSP 

Diretoria fundadora do projeto, em 2021: Luana Campos, Gustavo Motta, Luca Favareto, Maria Carolina Villela, Quezia de Novaes, Gabriel Lanzuolo, Paula Castro, Juan Simões, Beatrice Rainieri, Marcella Ganme, Maria Carolina Carillo, Guilherme Wanderley e Maite Basile.
Na foto, a diretoria atual (2022): Luana Campos, Gustavo Motta, Millena Costa, Tainá Ribeiro, Enzo Baldas, Marina Casagrande, Sophia Battistuta, Thais Dias, Eduarda Sanches, Beatriz Navarro, Bruno Russo, Ana Flavia Junqueira, Giovanna Pedrazzoli e Heloisa Nicolau.