23/08/2021

Curso “Hands on Peças frescas” da Faculdade aproxima experimentação da realidade cirúrgica Curso é diferenciado pelo perfil pedagógico, bases anatômica e morfológica, fazendo com que o conhecimento oferecido ao aluno se expanda

Os departamentos de Morfologia e de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) promoveram no sábado (21.ago.2021), o “Curso de Anatomia Clínica Aplicada à Cirurgia Endoscópica Nasossinusal e de Base de Crânio”. A formação de educação médica continuada foi destinada a otorrinolaringologistas já formados, residentes ou que estejam atuando em cirurgia nasal e de base de crânio. O objetivo foi rever e aprofundar o conhecimento com ênfase nos aspectos tridimensionais dessas regiões anatômicas, permitindo análise crítica da abordagem clínica e cirúrgica, promovendo o aperfeiçoamento dos cirurgiões com foco no bem-estar biopsicossocial de doentes portadores de afecções endonasais de tratamento cirúrgico.

A realização do curso contou com a parceria da empresa portuguesa Surgical Anatomy, que ofereceu as peças frescas para as atividades práticas; além do apoio da Ferrari Medical, que forneceu os itens para a instrumentação cirúrgica; da Medtronic, que disponibilizou os equipamentos para simulação de cirurgias e procedimentos por vídeo; da Practical e da Myralis.

A realização desse tipo de curso, que aborda temas específicos, é uma tendência, verificada não somente na Faculdade da Santa Casa de São Paulo, mas em outras instituições de ensino renomadas pelo fato de que cada vez mais o profissional médico necessita complementar a sua formação básica. Assim, à medida que a Medicina vai se tornando mais complexa, há a necessidade do aprofundamento em temas particulares. “Vamos investir cada vez mais para que cursos como esse possam se repetir em nossa instituição”, afirma o reitor da FCMSCSP, José Eduardo Lutaif Dolci. “Queremos trazer constantemente ex-alunos que estejam em outros centros de ensino ou em outros estados para reciclagens em temas como anatomia, cirurgia endoscópica, cirurgia de base de crânio, entre outros”, disse. “Nossa política institucional é de atuar na valorização e retenção de nossos talentos — todos os professores do curso são docentes da Faculdade —, trazendo novamente para a nossa comunidade acadêmica profissionais que possam estar atuando em outros locais.”

Curso preparou profissionais para atuação assertiva em casos práticos

Para a chefe do Departamento de Morfologia da FCMSCSP, Mirna Duarte Barros, um dos principais diferenciais do curso está na oportunidade de homogeneização de conhecimentos básicos anatômicos, por meio de um projeto pedagógico que se baseia em várias ações, como um pré-teste e um pós-teste para que o próprio aluno avalie e perceba qual foi o seu ganho de conhecimento durante o processo de aprendizagem. Além disso, a utilização de peças frescas nas atividades práticas é o que há de melhor em termos de formação. “Não há um curso igual a esse, com esse tipo de perfil pedagógico, com essa base anatômica e morfológica”, destaca. “Isso faz com que a base de conhecimento oferecida ao aluno se alargue, fazendo um enorme diferencial lá na frente, quando esse profissional se deparar com um caso difícil.”

Além da parte teórica, que foi conduzida por professores doutores da Faculdade da Santa Casa de São Paulo, profissionais com vasta experiência educacional e assistencial, os participantes puderam participar de atividades práticas em estações com peças anatômicas para revisão e consolidação de seus conhecimentos. Numa das estações foi possível utilizar um equipamento endoscópico para estudar ativamente a anatomia endonasal. Em outras duas estações foram disponibilizadas peças frescas, que se assemelham à realidade do paciente e permitiram observar a diferença com as peças fixadas, em questões como aspecto, cor e textura. “Todos os treinamentos visam a segurança do paciente, e quanto mais o médico e o cirurgião tiverem oportunidade de treinar seu conhecimento, sua ação e seu programa cirúrgico, mais o paciente será beneficiado com um nível de excelência que impactará no aumento de segurança do procedimento”, projeta Mirna.

As duas peças anatômicas fixadas usadas para o treinamento endoscópico são resultado da pesquisa e da preparação técnica dos doutores Ricardo Landini Lutaif Dolci e Lívia Burchianti, que trabalharam no desenvolvimento de novas abordagens de fixação e conservação de espécimes anatômicos.

Professor comemora as novas ferramentas tecnológicas, mas destaca que é fundamental saber usá-las corretamente em benefício da segurança do paciente

Para o professor do departamento de Morfologia Carlos José Lazzarini Mendes, que é especialista em cirurgia do aparelho digestivo e integra o grupo de Cirurgia de Parede Abdominal, atualmente é rara a não utilização do sistema vídeo assistido. “Nos Estados Unidos, (por exemplo), estamos verificando um problema (no sentido) contrário: o cirurgião vai fazer uma cirurgia abdominal para abordar a vesícula, e o residente só sabe fazer por laparoscopia. Ele terá que praticar para aprender a laparotomia, caso seja necessário uma intervenção no paciente”, disse.

Para Lazzarini, a formação para a realização de cirurgias por meio de vídeo está bastante avançada nos grandes centros urbanos, mas, em regiões e estados com poucos recursos, a situação é diferente, com restrições em peças anatômicas e cadavéricas. Nesses casos, normalmente são utilizadas peças plásticas para a prática. “Sabemos que os modelos anatômicos cadavéricos são muito superiores, porque nada substitui o modelo humano”, avalia. “A grande vantagem é que mudamos a forma de fixação do cadáver: as soluções antigas eram carregadas de formol que causavam rigor aos tecidos. Hoje usamos soluções em que o cadáver fica completamente maleável, de maneira que podemos fazer cirurgias artroscópicas, toracoscópicas, laparoscópicas, para abordagem do reparo anatômico.”

Segundo o professor, com o desenvolvimento de novas tecnologias, a formação continuada do médico é cada vez mais necessária. Isso porque, se o equipamento ou a tecnologia não forem bem utilizados, poderá acarretar em prejuízo ao paciente ou numa ideia equivocada de que a ferramenta não funciona de modo adequado. “A grande dificuldade é que para a prática são utilizadas peças anatômicas dissecadas ou esqueletizadas, que não refletem a situação do indivíduo vivo, que não está dissecado, e, ao contrário, pode estar com um tumor ou com um abscesso, distorcendo o reparo anatômico que deve ser buscado.”

Corpo docente

Coordenado pelos professores Paulo Roberto Lazarini e Mirna Duarte Barros, o curso foi organizado pelos professores Ricardo Landini Lutaif Dolci e Carlos José Lazzarini Mendes. As aulas teóricas e as tutorias práticas ficaram a cargo dos professores Américo Rubens Leite dos Santos, Alexandre Suehara, Bianca Maria Liquidato, Carlos Augusto Herrerias de Campos, Carlos José Lazzarini Mendes, Lidio Granato, Marcel Menon Miyake, Paulo Roberto Lazarini e Ricardo Landini Lutaif Dolci.