01/07/21
O trabalho Role of bradykinin receptors in the spatial memory in a Parkinson´s disease model, orientado pela Profa. Dra. Ariadiny Caetano, do Departamento de Ciências Fisiológicas, foi selecionado para apresentação no e-kinin 2021, que este ano foi sediado Paris. O estudo foi realizado com recursos do Fundo de Amparo à Pesquisa (FAP) da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP).
A apresentação aconteceu virtualmente no dia 8 de junho pela aluna Vitória Caroline Queiroz. O Kinin Conferences é realizado a cada três anos. Por conta da pandemia de covid-19, a conferência ocorreu este ano em edição especial virtual, devendo voltar a ser realizada presencialmente em 2022. O evento, que acontece há várias décadas, é considerado o maior em nível mundial e tem grande importância para os pesquisadores de cininas de diversas áreas. Cininas são grupos de substâncias que têm atuação nos sistemas biológicos podendo causar efeitos específicos, como por exemplo a diminuição da pressão arterial.
O estudo investigou o envolvimento dos receptores de cinina B1 e B2 na doença de Parkinson, que foi induzida em animais nocautes – manipulados geneticamente para que não tenham um dos receptores. Já os receptores B1 e B2 são um tipo de proteína, podendo ser considerados uma espécie de fechadura apta a desencadear respostas dentro das células para que o organismo possa responder a determinadas doenças. Como exemplos, a B1 atua na resposta inflamatória, enquanto a B2 tem efeitos na redução da pressão arterial e na resposta de neuroproteção.
“Se os receptores estiverem realmente envolvidos com o Parkinson, poderíamos fazer o uso de drogas que atuem neles e assim melhorar os sintomas pré-clínicos, que são os problemas de memória”, destaca Ariadiny. “Essas drogas existem somente na área experimental, mas nada impede de que, se comprovada a eficiência em animais, elas possam ser testadas em humanos e melhorar os problemas cognitivos.”
Foram realizados testes de memória que são preconizados na literatura no estudo da doença. Após esse procedimento, foi feita uma avaliação da lesão causada pela injeção da toxina 6-hidroxidopamina (6-OHDA), uma droga que inserida no sistema nervoso central causa a morte dos neurônios da substância negra – área responsável por produzir o neurotransmissor dopamina, cuja a falta é a principal causadora da doença de Parkinson -, permitindo avaliar se o experimento obteve êxito.
A partir daí, foram verificadas outras características observadas no tecido cerebral, como a presença de sinapses, que é a comunicação entre neurônios. “Observamos o aumento de sinapses na região do hipocampo, que é responsável pela formação e consolidação da memória”, revela Ariadiny.
Segundo ela, até então, não se tinha estudos da relação do Sistema calicreína-cininas, que é responsável por outras substâncias relevantes no tratamento da doença de Parkinson. Assim, o estudo orientado no Departamento de Ciências Fisiológicas da FCMSCSP foi um dos primeiros no mundo a investigar o tema nesse aspecto a partir de organismos vivos. Os estudos publicados até então foram realizados em modelos celulares. “Em relação aos receptores de cininas, no geral, há estudos somente para outras doenças neurodegenerativas como para Alzheimer e também com o envolvimento cardiovascular”, disse.
No histórico de estudos sobre Alzheimer, foi observado que os animais nocaute do receptor B1 não apresentaram deficit cognitivo após a indução da doença. Já na doença de Parkinson, os dois tipos de animais nocautes para o receptor B1 ou B2, aprenderam a tarefa de memória em Labirinto Aquático de Morris, que é um exercício em que o animal é colocado numa piscina e desafiado por meio de desenhos a localizar uma plataforma. Quanto menos tempo for gasto na execução da tarefa, melhor terá sido o resultado do experimento. “Inicialmente, suspeitávamos que os animais nocautes receptores B2 não aprenderiam a tarefa, enquanto os animais para o receptor B1 teriam êxito. Quando fomos observar essas varicosidades – aumento de sinapse – observamos que os animais nocaute B1 apresentaram um aumento significativo em relação aos animais nocaute B2, corroborando que com a tese que o receptor B2 também tem um papel de neuroproteção na doença de Parkinson, algo que, até agora, não é descrito na na literatura.”