14/10/2020

Profa. Dra. Giselle Burlamaqui Klautau é homenageada pelo Departamento de Medicina Conferência enfatizou a importância de formar profissionais voltados para a autonomia e o bem-estar do paciente, a geração de conhecimento científico e a justiça social

Ocorreu dia 14 de outubro a Conferência Magna da Profa. Dra. Giselle Burlamaqui Klautau, homenageada pelo Departamento de Medicina da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Após a abertura do Prof. Dr. Milton Gorzoni, diretor do Departamento de Medicina, o Prof. Dr. Mauro Salles, docente da FCM/Santa Casa, fez uma breve e afetiva descrição da carreira da homenageada.

A Conferência
Em sua fala, a Dra. Giselle refletiu sobre direitos básicos e a educação de adultos. Questionou como encontrar espaço para compartilhamento de saberes soterrados por práticas hierárquicas de transmissão do conhecimento e defendeu que o precioso tempo da “sala de aula” seja utilizado para construir uma comunidade de aprendizagem e para ensinar o pensamento crítico.

Esse tipo de ação pedagógica é premente num cenário mundial que, em 2018, contabilizava 10 milhões de casos de tuberculose, sendo que apenas sete milhões de pessoas receberam tratamento, três milhões não foram tratadas, com um balanço global de 1,5 milhão de mortes.

A situação ocorre ainda em panorama de grave escassez de recursos e de dificuldades de acesso ao tratamento, que põe em risco as populações mais vulneráveis e com maior possibilidade de adoecimento, como as pessoas que vivem em situação de rua, infectadas pelo HIV, privadas de liberdade e indígenas.

Quem são os invisíveis?
Dra. Giselle indicou que  “os invisíveis”, no Brasil, são, na maioria, homens de meia idade, pretos ou pardos, de baixa escolaridade, com alto risco de adoecimento por tuberculose e  invisíveis para o sistema de saúde e para a sociedade.

Trata-se de um grupo populacional heterogêneo que tem em comum a pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados, exposição cotidiana à violência, inexistência de moradia convencional regular e utilização de logradouros públicos ou áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento de forma temporária ou definitiva.

Dra. Giselle apontou que essa população que vive em situação de rua é mais vulnerável a várias doenças, especialmente a tuberculose. Todavia, paradoxalmente, esse grupo tem vulnerabilidade programática, ou seja, invisibilidade de suas necessidades reais nas ações e programas de assistência, promoção de saúde e prevenção de doenças.

A conferencista evidenciou então um paradoxo: quem precisa mais tem menos acesso aos serviços de saúde. Essa iniquidade seria favorecida pela construção de imagens sociais negativas dos sujeitos que interferem diretamente nas atitudes dos profissionais de saúde nos diferentes níveis de atenção, prejudicando o cuidado e perpetuando o círculo vicioso com produção de mais estigma, preconceito e marginalização, mantendo a dura realidade de expropriação de direitos básicos.

O consultório na rua e seus atores
Uma alternativa apresentada pela conferencista homenageada foi o consultório na rua, já que diversos estudos apontam para a importância desta estratégia que tem como figura central o agente comunitário de saúde e deve ser valorizado sempre.

As equipes de saúde devem trabalhar de forma colaborativa reconhecendo o indivíduo como singular na sua fragilidade e na sua alteridade (o que é do outro, o que é diferente), sempre buscando o cuidado integral e estabelecendo vínculos.

Nesse amplo contexto, quais são as competências esperadas do aluno? Dra. Giselle lembrou Philippe Perrenoud, para quem competência é a capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado em conhecimentos, mas sem se limitar a eles.

Nesse contexto, especificamente na área da saúde, demanda-se dos profissionais da área conhecimentos, habilidades e atitudes fundamentais sempre considerando o contexto social.

A palestrante lembrou ainda que o conceito de competência, para fins estratégicos, pode ser decomposto em conhecimento (domínio do saber, do registro e do acesso à informação); habilidade (saber fazer e saber realizar no sentido psicomotor e cognitivo) e atitude (saber ser e saber conviver).

Competência, Profissionalismo e Experiência
Dessa maneira, o profissional do novo milênio manteria seu compromisso com a competência, reafirmando os princípios básicos, como bem-estar e autonomia do paciente e justiça social.

A fala também focou qual é o olhar que se deve ter sobre a experiência prática no século XX? A partir da leitura de autores como Henry Giroux, Diana Fuss e bell hooks, a Dra. Gisele mostrou que a experiência estará dentro de uma teoria do aprendizado em que professores e alunos consigam compartilhar suas experiências na sala de aula ou em comunidades de prática sem pontos de vistas excludentes , mas num processo de interação entre ambos.

Portanto, seria imprescindível ensinar os alunos a enxergar aqueles que são invisíveis aos olhos do sistema de saúde, das instituições de ensino e da sociedade.

Para a Dra. Giselle, o primeiro passo seria saber como se aprende e como se ensina profissionalismo. Por isso, a sua conferência focou na educação dos adultos que o ensino entrega à sociedade, concebendo a educação como uma prática de liberdade, em que consumidores historicamente passivos, com conscientização e engajamento crítico, se apropriam do conhecimento e se transformam em participantes ativos e autônomos na busca pelo conhecimento e de justiça social.

Sobre a Dra. Giselle Burlemaqui Klautau
Dra. Gisele é graduada em Medicina pela Fundação Educacional do Estado do Pará e cursou Residência em Clínica Médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Realizou a Residência Médica em Moléstias Infecto Contagiosas no Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Concluiu o Mestrado na área de concentração em Clínica Médica na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e obteve o Título de Doutora em Infectologia após defesa pública de Tese no Curso de Pós Graduação da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP.

Docente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a Dra. Gisele tem ampla experiência na área de Clínica Médica e Infectologia e é vice-diretora do Curso de Medicina da instituição.

Na sua conferência, intitulada “Como enxergar os invisíveis”, enfatizou a importância de formar profissionais voltados para a autonomia e o bem-estar do paciente, para a geração de conhecimento científico e para a justiça social.

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