28/06/2022

Professora da Faculdade fala sobre pesquisa que levantou os motivos da cobertura vacinal infantil estar em queda no Brasil A professora Dra. Rita Barradas Barata foi uma das coordenadoras do estudo Inquérito de cobertura vacinal nas capitais e no Distrito Federal, encomendado pelo Ministério da Saúde

A professora Dra. Rita de Cássia Barradas Barata, do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), é uma das coordenadoras de pesquisa inédita realizada para identificar os motivos da queda na cobertura vacinal infantil no Brasil. O trabalho, realizado a pedido do Ministério da Saúde, teve o resultado divulgado recentemente.

O estudo “Inquérito de cobertura vacinal nas capitais e no Distrito Federal em crianças nascidas em 2017 e 2018 residentes na área urbana” foi coordenado em conjunto com o professor Dr. José Cassio de Moraes, também do Departamento de Saúde Coletiva da FCMSCSP, tendo a participação de profissionais de dezenas de instituições de ensino no Brasil.

Em 9 de junho, em que é comemorado o Dia Nacional da Imunização, a professora foi uma das entrevistadas do Programa Opinião, da TV Cultura, quando falou sobre a pesquisa. Ela enfatizou o alto risco do retorno de diversas doenças que foram eliminadas no passado, caso as campanhas de vacinação não sejam ampliadas. “O Brasil tinha um programa que era considerado exemplar no mundo todo, desenvolveu tecnologias e dias nacionais de vacinação e, agora, estamos assistindo um retrocesso muito acelerado”, diz. “Quando você vai casa a casa levantar as carteiras de vacinação das crianças, vemos que a cobertura do esquema completo está muito baixa. A situação é ainda pior do que a gente está pensando, esses primeiros dados têm nos deixado bastante preocupados”, comenta Rita.

Também participou do programa, apresentado pela jornalista Andresa Boni, Mônica Levi, que é presidente da Comissão Técnica para a Revisão dos Calendários Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e membro do comitê de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Pesquisa coordenada por professores da FCMSCSP apontou necessidades para qualificação do Programa Nacional de Imunização

A pesquisa coordenada pelos professores da FCMSCSP surgiu como um alerta para garantir a proteção, por meio da vacina, das crianças brasileiras contra vírus de doenças que haviam parado de circular no país devido à efetividade das campanhas de vacinação. Segundo Rita, o ideal para que se tenha uma imunização nacional efetiva é que sejam vacinados de 90 a 95% da população, desse modo, não vacinados e adultos também estariam mais protegidos. Contudo, apesar da meta desejada, o número de crianças vacinadas para doenças que já voltaram a circular — como é o caso do sarampo, visto que em 2021 foram registrados 40 mil casos e 40 óbitos, sendo 26 deles em crianças — foi menor de 70%.

Ainda de acordo com a professora Rita Barradas, ampliar a cobertura vacinal é urgente para prevenir que as doenças não se tornem endêmicas. “O efeito da vacina é coletivo, por isso precisamos alcançar coberturas altas. Se temos 95% das crianças vacinadas, aquelas 5% que não foram, independentemente do motivo, estarão protegidas pelo cinturão das vacinadas”, enfatiza Rita sobre a necessidade de retomar a imunização rebanho.

Entre outros dados, o estudo aponta que os motivos dessa queda são a falta de preocupação da doença; medo de reações; dificuldades para encontrar a vacina, além da falta de profissionais da saúde nas unidades de saúde. Além dos resultados levantados a partir da pesquisa, a doutora também evidencia a falta de comunicação com a população e o aumento das notícias falsas sobre as doenças e vacinas.

Devido ao sucesso de campanhas de vacinação do passado, gerações atuais desconhecem gravidade de determinadas doenças que haviam sido eliminadas

A pesquisadora também explica que, devido ao sucesso de campanhas anteriores e da imunização de rebanho bem sucedida por gerações, é comum que a comunidade, em especial pais e gestores de saúde, não compreenderem a gravidade da situação. De acordo com ela, o sarampo, por exemplo, foi, por muito tempo, a causa da mortalidade infantil (crianças menores de 1 ano) e da mortalidade na infância (crianças menores de 5), sendo uma doença grave para quem não tem as melhores condições de enfrentar a infecção, em especial de pessoas não vacinadas.

Assim, Rita enfatiza que é necessário que os órgãos públicos de saúde façam campanhas com boa adesão, com uma comunicação social adequada em nível nacional e que o Programa Nacional de Vacinação seja repensado e adaptado à atual realidade, a fim de que médicos e profissionais de saúde, os gestores e toda a população saibam que as consequências da doença são maiores do que as possíveis reações da vacina e, por isso, elas devem ser combatidas antes da infecção. “Se você tem uma vacina altamente eficaz, que não tem risco e que pode prevenir, é algo que a gente temos obrigação de fazer”, diz.

Assista o Programa Opinião.