12/07/2023
Heloisa de Souza Dantas, doutora pelo curso de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), investigou em sua tese elementos constitutivos à forma de funcionamento, gestão e condições gerais das prisões femininas, bem como a ocorrência de problemas de saúde, os itinerários de cuidado e estratégias de resistência das mulheres à opressão e violências existentes nos diferentes estabelecimentos prisionais. A pesquisa denominada “Sobreviventes: Estratégias para Manutenção da Vida e Itinerários de Cuidado Durante o Cárcere Feminino” foi apresentada no dia 26 junho de 2023, na sala da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, localizado no 7º andar do prédio da Rua Dona Veridiana, nº 55 – Vila Buarque (SP).
O trabalho analisou nove entrevistas de mulheres e os agravos à saúde física e mental durante o cárcere. Dentre as perguntas realizadas, foi questionado sobre os principais sentimentos que estas mulheres sentiram durante o cárcere, as estratégias que buscaram na prisão e quais itinerários de cuidado que elas realizaram.
De acordo com Heloisa Dantas, a tese surgiu de diferentes experiências que teve atuando como psicóloga, pesquisadora e voluntária em projetos sociais com mulheres que estavam presas ou que passaram pela prisão. “Oito mulheres reportaram que adoeceram ou que tiveram algum problema de saúde físico durante o período de aprisionamento”, diz. “Quanto à saúde mental, todas as participantes relataram ter sentido intenso sofrimento em algum momento do cárcere e percebem que a maioria das mulheres é afetada pela ausência de liberdade e pelas condições adversas das instituições”, explica a doutora.
Ainda segundo Heloisa, também foram relatadas diferentes estratégias criadas para que seja possível suportar as condições do cárcere. Dentre elas, está a capacidade de dominar as emoções e manter o autocontrole como uma forma de inteligência capaz de blindá-las do sofrimento.
Além disso, com o objetivo de minimizar estes adoecimentos, também foi percebido que as entrevistadas apoiaram-se no sistema oficial de saúde, incluindo nos equipamentos, serviços e profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), além do apoio social, religioso e de autocuidado.
Assim, a partir das informações levantadas pela pesquisa, a tese visou contribuir com o debate sobre os direitos humanos das mulheres que passam pelo cárcere e sua intersecção com o campo da Saúde Coletiva. “A prisão não está apartada da vida social, ao contrário, ela só pode ser compreendida em conexão com os fatos, os acontecimentos, os discursos e ações que ocorrem no exterior”, diz.
“É preciso reconhecer de forma crítica as demandas de cuidado à saúde das mulheres afetadas pelas consequências da prisão, sendo necessário mecanismos de controle e responsabilização que assegurem os direitos humanos dessa população”, aponta Heloisa.
A pesquisa é pioneira no que se refere aos itinerários de cuidados de pessoas encarceradas, incluindo suas formas de vida e diferentes estratégias para lidar e resistir às situações de violência e consequente marcas advindas dessas experiências.
A tese foi orientada pelo professor Dr. Paulo Artur Malvasi, docente do Departamento de Saúde Coletiva da FCMSCSP.